quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Aceite ou fique sozinha

- Então, tô saindo com um mocinho.
- Obaaa!! Me conta mais!
- Ah, ele é um fofo, mas sei lá...
- Sei lá o que?
- Ah, ele tem uma filha de 5 anos... tem uma barriguinha de cerveja... e é meio careca...

Quem já não ouviu conversa parecida entre amigas da nossa faixa otária etária?

Minha gente, segócio é o neguinte: a gente já não tem mais 17 anos. Nem 23. A gente tem (quase) mais de 30. E os rapazes com os quais a gente se relaciona, também. E como se diz em inglês, we`re not getting any younger (SAP: não estamos ficando mais jovens). Então não tem jeito: os mocinhos que a gente vai paquerar, beijar, sair, namorar, casar, transar, etc etc, vêm com uma "bagagem" junto. A bagagem: ex-namoradas, ex-mulheres, histórias meio bizarras, filhos, o resultado de cinco anos sem jogar futebol mas comendo o mesmo monte de comida de antes, o cabelo que começa a abundar no box e no travesseiro mas rarear na cabeça.

Não tem jeito. Se você não gosta de homem meio careca, ou grisalho, ou com barriguinha, ou com filhos, melhor rever seus conceitos se quiser aumentar suas chances de ter um relacionamento bacana. Assim como a sua pele já está mostrando se você tomou muito sol sem protetor na vida, o tempo passou pra eles também.  Tá passando. E isso traz a bagagem junto pra todos nós.

Não estou dizendo que temos que nos contentar com o primeiro que aparecer na nossa frente e se agarrar a ele como se fosse a nossa última esperança de felicidade na vida. Até já escrevi um post contra isso. E tampouco adianta forçar pra se sentir atraída por alguém que não atrai e pronto. Mas também não dá pra ficar com muuuuita frescura não, viu, filhas? "Ai, ele tá ficando careca", "ai, ele engordou 6 quilos", e por aí vai. Quem escolhe demais, fica sem!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Aos 30, a gente é o que a gente é

Esses dias eu tava falando com uma amiga superfofa e sabida  que disse algo que eu adorei (na verdade eu sempre adoro o que ela diz, mas isso eu adorei mais): "é que aos 30 a gente já é muito o que a gente é mesmo".

Taí uma verdade, né? Aos 30 já temos as características da nossa personalidade bem formadinhas, somos o que somos e o que vier depois só complementa, melhora ou piora.

E é por isso que, por exemplo, a gente já não tem mais paciência pra pessoas e pra eventos que a gente aguentava quando tinha 20; a gente já sabe melhor do que gosta e do que não gosta, o que combina com a gente e o que não. É por isso que temos menos amigos mas eles têm mais a ver com a gente. É por isso que a gente tem a cabeça mais no lugar (geralmente, né?)

Não quer dizer que a gente não vá mudar nada nunca mais, claro, mas a base do nosso ser (nossa!) já tá firminha, firminha. Concordam?

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Carnaval em vão

Quando ela abriu os olhos viu que tinha mais brilhos e cores na cara que um carro alegórico. Não deveria ter deixado que a Claudinha a maquiasse para ir a esse bloco de rua, como chamava mesmo? Kapota Mais Num Breka. Quando se deu conta do que estava prestes a fazer, começou a pensar; ia pular carnaval num bloco com um nome desses? Não entrava nem em lanchonete que tivesse "k" substituindo algum "c" no nome. Brigou com o Paulinho quando ele quis levá-la a um "Ki-bar". E agora ia dar o ar da graça no Kapota Mais Num Breka?

Quando deu por si estava no meio da multidão pulando meio desajeitada com as amigas frenéticas, todas com as caras brilhantes e coloridas como a dela. Um batuque ensurdecedor, os gritos das amigas dando cerveja pra ela. Vira, vira, vira. Era disso mesmo que precisava para esquecer o Paulinho? Sete sombras na cara, um colar havaiano de plástico vagabundo e estranhos bêbados e suados tentando enfiar a língua na garganta dela?

Quando foi ver ela já estava até mais alegrinha e nos braços de um rapaz com nariz de palhaço, bafo de cerveja e cigarro e maconha e Halls. O beijo foi estranho, pelo que ela se lembra. Ainda bem que logo depois o moço saiu saltando ao ritmo da música, com os dedinhos pra cima e fazendo "uhuuu", encoxando uma loira logo em seguida. Ela ficou com enjoo. Paulinho jamais faria uma coisa dessas.

Vira, vira, vira, e quando ela percebeu que estava bêbada mesmo, pela primeira vez na vida aos 30 anos, começou a rir. Depois a chorar. E depois a rir de novo. Vira, vira, vira, e ela estava apoiada em duas amigas quando um mocinho recém-saído da adolescência, "fantasiado" com uma fralda e uma chupeta gigante pendurada no pescoço, começou a dançar com ela. A bebida, o calor, o batuque, os gritos, as amigas, o calor, o calor, o moço. Paulinho? Que Paulinho?

Quando se ligou já estava beijando o bebezão enquanto as amigas urravam e comemoravam. Mais enjoo. Se não fosse o moço segurando-a pela cintura, ela teria caído. Outro beijo. Que nojo. Pelo menos o bafo desse era só de cerveja. Ela queria vomitar. Paulinho.

Quando acordou estava na casa da Malu. A roupa suja de terra, de cerveja, de vômito seco, de suor. A cabeça doendo, o estômago revirado. A Malu estava dando um Engov pra ela, a Claudinha olhava com pena pra maquiagem que ela tinha feito com tanto cuidado e que agora estava destruída. Ah, e pena dela também, claro.

Quando notou que não lembrava de quase nada, ficou aflita. Dois? Como, dois? Não foi só o palhaço? Bebezão? Que bebezão? Era novinho ainda por cima? Meu Deus. Elas estavam tirando com a cara dela. Imagina o que o Paulinho ia dizer. Ah é, eles tinham terminado. Ela queria curtir a vida, ter outras experiências, era complicado namorar o mesmo cara desde os 18. Eu vomitei? Nossa, é mesmo, que cheiro horrível! Eu nem lembro. Caí? Duas vezes? Como assim, deu pra ver a minha calcinha? Muito? Mas muito quanto? Meu Deus. Se o Paulinho soubesse!

Quando viu já estava com o telefone na mão, ligando pro Paulinho. Percebeu que não queria curtir a vida coisa nenhuma, se curtir a vida era como esse Carnaval. Nem lembrar do que aconteceu ela lembrava direito. Então pra quê? Esse Carnaval só tinha servido pra ela se dar conta de que era o Paulinho mesmo que ela queria. E que jamais voltaria a pisar em qualquer coisa cheia de "k". Ah, e que ela não pode beber, mesmo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Festas aos 30 anos

Ter (quase) (mais de) 30 é bom pra muitas coisas. Pra viajar, pra decolar na carreira, pra casar, pra ter filho, pra fazer quase tudo o que der na telha. Você tem maturidade, ainda tem disposição, tem mais dinheiro que aos 20 (espero!), enfim, possibilidades de aproveitar a vida e ser feliz não faltam.


Mas tem uma coisa pra qual os 30 definitivamente não são bons: fazer festas de aniversário.

Cheguei a essa conclusão depois de analisar diversos aniversários de quase 30, 30 e mais de 30, inclusive os meus. É sempre assim: ou você não está com saco de fazer festa e ter de ficar dando atenção pra todo mundo, ou você faz na maior expectativa e vai metade do pessoal que você convidou, se você tiver sorte. Tá todo mundo ocupado: ou tem filho pequeno pra cuidar, ou tem pós, ou tá morto de cansaço de trabalhar 10 horas por dia, ou tá com dor de cabeça, enfim, são N as desculpas razões pro povo fazer aquela cara de "puts, não vai dar".

A coisa só melhora pras comemorações de aniversário mais "multitudinárias" lá pros 45, 50. Aí todo mundo fica com vontade de farrear, aproveitar a vida, recuperar o tempo perdido, voltar a fazer o que não pôde por tanto tempo. Os filhos já estão mais crescidos, a carreira mais estável (ou não, mas se não estiver estável, você vai estar mais acostumado a essas coisas da vida). Claro que essas festas são diferentes do que seriam aos 25. O povo traz os filhos, os agregados, vai embora mais cedo porque já não dá mais pra ficar na bagunça até as 7 da manha. Mas se o aniversariante estiver no clima, a farra rola solta.

O que fazer então nos nossos aniversários? Ficar deprimido até essa fase passar e não comemorar de jeito nenhum? Não! Eu aconselho apostar em festejos mais íntimos, porque a essa altura da vida a gente conhece tanta gente que acaba ficando cansado só de pensar em fazer uma lista de convidados. Um barzinho tranquilo, um bolinho e cervejinha em casa, alguma coisa com as crianças pra quem as tiver. Pra farra, faaaarra mesmo, cheia de gente e tals, talvez tenhamos que esperar um pouquinho mais...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

As Viagens de Nadja - I - Eat it

Resolvi escrever neste humilde espaço virtual algumas historinhas que sempre me fazem sorrir. São coisas que aconteceram comigo nas várias viagens que já tive a oportunidade de fazer na vida (obrigada, papai do céu) e que renderam lembranças deliciosas e material pra muitas conversas com amigos (alguns, aliás, não aguentam mais ouvir as mesmas histórias, preciso voltar a viajar urgente!)

Não esperem nada de porra-louquice, nada erótico, grandes baladas, situações que poderiam ter terminado em tragédia e nem nada desse estilo. Nunca fui porra-louca, aliás considerem que nem beber eu bebo. Tedioso? Sei lá, são maneiras de viver a vida. O que pretendo contar aqui são só memorias que deixam meu coração quentinho. Espero que gostem.

Começo a série com uma ótima que aconteceu com a gente na Grécia, em 2008.

Pois é, estávamos na Grécia, lindo lindo, mas a cidade em que estávamos nem era lá uma beleza. Nunca tínhamos ouvido falar dela até umas 12 horas antes de estar nela, mas é que foi assim: 

Faríamos um cruzeiro pelo Mar Egeu em um barco pequeno, pra 50 pessoas apenas (pensem que o tal do Costa Concordia tinha quase 5000). Nesta região ficam as ilhas mais famosas como Santorini, Creta e Mikonos. Sonho, né? Pois era a viagem dos meus sonhos. E ela aconteceu, só que não: por causa das marés, dos ventos ou sei lá que outra desculpa, não poderíamos navegar pelo Egeu com esse barco e então fomos para o Mar Jônico. E que cazzo tem lá, você sabe? Pois a gente também não sabia. E a coisa não começou bem, já que a primeira cidade onde paramos, essa da história, não tinha nada demais a não ser o fato de ser na Grécia. Ah, e moças de topless assim sem mais.

Pois lá estávamos em um restaurante na beira do mar em Itea (onde?). Um restaurante simples mas aconchegante, todo aberto, que poderia estar em qualquer Guarujá da vida mas estava em Itea. E lá estávamos nós também, depois de sair de Atenas e passar a tarde e a noite navegando. O mar azul azul azul de um lado, do outro uma mesa enorme com dezenas de chineses? coreanos? japoneses? extremamente silenciosos (ah, se fosse um grupo desse tamanho de brasileiros).

Fizemos o pedido ao senhor que nos atendeu, que parecia ser o dono do lugar.

Os pedidos chegaram. O da minha mãe veio errado. E ela, com seu enorme sorriso e seu inglês de multinacional americana:

- Desculpe, senhor, mas isso não foi o que eu pedi.
O que se faz neste caso? O garçom pede desculpas, diz que errou, se oferece para trocar o prato? Diz que o que ela pediu não tem mais e que esse seria cortesia da casa? Não. Você está na Grécia.
- Ah sim, mas é bom, coma.

Juro. Em inglês com o sotaque todo quadradinho dos gregos: "yes, yes, but it`s good, eat it".

Ficamos sem reação por alguns segundos. Minha mãe, ainda sorrindo, tentou argumentar, disse que queria o outro, mas ele estava irredutível. "Don`t worry, eat it. Good. You like it".

Já tínhamos percebido que os gregos são "faz o que tô falando e cala a boca" quando chegamos a Atenas. No hotel, o cara da recepção colocou "RonaldiNIO" no "nome do hóspede" do meu quarto e "Rivaldo" no do quarto da minha mãe e do marido. Pois é. Perguntamos se não teria problema, e ele "no no, no change it, Rivaldo and RonaldiNIO". Ah, e também quando nos avisaram da mudança de rota do cruzeiro, porque não nos deram alternativas como descer do barco e ir em outro cruzeiro, ou o dinheiro de volta, nada. "No, not going to Santorini, no Santorini, I told you already", dizia nossa guia. 

Demos risada do bizarro da situação. O cara não estava sendo grosso, ele apenas era grego; não consegui descobrir se os gregos são grossos de um jeito simpático ou simpáticos de um jeito grosso.

Minha mãe resolveu comer o prato. E era bom mesmo. Quando o senhor passou perto da nossa mesa, minha mãe o chamou e comentou que ele tinha razão, que o prato era bom mesmo.

- I know, I told you. Good. 

E foi esse jeitinho de ser, além das paisagens fascinantes e dos lugares históricos incríveis (imagina conhecer onde ficava o famoso oráculo de Delfos e onde surgiram as Olimpíadas?), que fez a Grécia entrar no meu coração de tal maneira que eu voltaria pra lá mil vezes se eu pudesse. Não sei se pra Itea, mas enfim. A viagem, mesmo seguindo um roteiro diferente do original, acabou sendo maravilhosa. E ainda conseguimos ir pra Santorini, mas isso é tema pra outro post.

Fotinho tirada pertinho do restaurante:

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Depois dos 30, pode?

Esses dias uma amiga levantou uma questão interessante no Facebook: cabelo comprido depois dos 30, pode? Eu acho que pode, claro! Acho que a discussão é mais pra faixa acima dos 50, 60. Há casos e casos. Eu só acho feio mesmo mulher mais velha, com a cara toda repuxada e botocada e cabelo loiro tingido - comprido - chapinha. Esses dias mesmo vi uma: sainha jeans rodada e curta, meia branca nas canelas, tênisinho, camiseta com um coração rosa enorme, cabelo loiro e comprido com franjinha. Idade: uns 65 anos. Não, minha senhora, a senhora não pode ter 25 anos novamente.
Não tenho essa dúvida em relação ao comprimento dos meus cabelos, que estão compridos de novo depois de eu ter ficado um ano de cabelo curto pela primeira vez desde que eu tinha uns 8 anos de idade - o que não teve nada a ver com o fato de ter feito 30. Mas tenho em relação a outras coisas: aos (quase) (mais de) 30, ainda devo usar tênis coloridos? Fivelas coloridas, das quais eu usava e abusava aos 20? Saia curtinha, pulseira com as cores do arco-íris? A foto abaixo, de uma moça de (mais de) 30 com camiseta da Minnie, é fashion ou fecho-os-olhos?



E minhas dúvidas não se restringem só ao vestuário. Os pequenos bichinhos de pelúcia que tenho no quarto, são fofos ou ridículos? Eu gosto deles, são todos lembranças de viagens ou presentes e são bem pequenos, discretos. É bacana?



A foto abaixo é da sala de uma mocinha moderna ou de uma menina de 7 anos? É que eu  tenho uma tendência a gostar de coisas coloridas e tenho que tomar cuidado pra minha casa não parecer um quarto infantil. Mas também, e se parecer? Qual o problema? Qual o problema de ter uma Barbie na sala?


As atitudes também me causam dúvidas. Posso sair buzinando para desconhecidos, cheia de amigas no carro, como fazia aos 20? Tenho que me comportar de algum jeito diferente do de sempre, porque agora sou "balzaquiana" (palavra que odeio)? Por eu ter (mais de) 30, esperam algo de mim que eu nem sei (além de casar, ter filhos, carreira, corpo perfeito, mestrado, blá blá blá blá)?

Sei lá. Por um lado, hoje em dia isso de "idade" é mais relativo que nunca. Vivem dizendo "30´s are the new 20´s", as pessoas vivem mais, fazem aos 40 coisas que antes se fazia aos 30. Madonna tá aí cantando "give it to me" de shortinho aos 50 e poucos e, por mais que ela seja exceção, não deixa de ser um sinal dos tempos.

Acho que tudo depende do estilo de vida, da personalidade, das características físicas, da vontade e do bom senso. De se respeitar, de respeitar seus tempos. Se aos 30 você não tem o mesmo pique pra baladas que aos 20, respeite-se! Se aos 50 você não tem o mesmo corpitcho pras roupitchas dos 30, respeite-se! Em relação à roupa, por exemplo, talvez eu realmente fique ridícula de fivelinha colorida + tênis colorido + sainha curtinha + camiseta da Minnie, mas se usar o tênis colorido com um belo jeans e uma blusa diferente, posso ficar gata, respeitando meus gostos, minha personalidade. É questão de saber usar e de ver o que combina com você ou não, independente da idade. E isso não só em relação às roupas.

Também não adianta ficar classificando as pessoas e até você mesma pela idade (viu, Nadja), que pode até ser um parâmetro para algumas coisas, mas não pra tudo. A idade pode ser uma que é a real, outra do corpo e outra da cabeça. Entao pra quê se prender a isso? Use o cabelo como você bem entender e seja feliz!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Zen paciência

Até que ela desmaiou no meio da festa de um lançamento importante. O circo pegando fogo, teve briga de mulheres, cadeira faltando, a cobra fumando, banheiro quebrado, manobrista arranhando carro e ela, que era a maior responsável pelo evento, não aguentou o tranco. Caiu de vestido e tudo, de saltão e tudo, no meio de uma discussão.

Foi parar no hospital. Diagnóstico: estresse. Ela sempre dizia que estresse é para os fracos enquanto seguia na sua rotina desenfreada. Não conseguia dormir direito com as palpitações e o nervoso. Comia qualquer coisa pela falta de tempo e disposição pra cozinhar. Era o dia inteiro atendendo os dois celulares, indo de um lado pro outro, resolvendo problemas, e de noite ainda tinha que ir a eventos e festas. Essa vida de promotora de eventos não era fácil, mas ela gostava da agitação, da badalação, e principalmente de mandar nas pessoas. Faz isso! Faz aquilo! Preciso disso pra ontem, viu? Pra on-tem! Ela se sentia bem com esse pequeno poder, mas parece que o corpo dela resolveu protestar e na pior hora, tipo greve de aeroviário na véspera das festas.

Férias forçadas e a recomendação de diminuir o ritmo e se cuidar mais. Que saco, né? Mas vai ver que ela tinha que fazer isso mesmo, se não poderia passar de novo essa vergonha de desmaiar no olho do furacão, na frente de todo mundo. Coisa mais ridícula, coisa de fracos. Mas ela ia pelo menos tentar.

- Ai, amiga, eu tô fazendo yoga três vezes por semana, uma delícia! Relaxa que é uma coisa! Por que você não tenta? - disse uma amiga dela, que devia relaxar porque não tinha porra nenhuma pra se preocupar mesmo, já que era o benhê que pagava as contas no fim do mês.

E lá foi ela pra um instituto perto de casa com um nome hindu impronunciável. Se irritou por não conseguir nem falar o nome do lugar.

Já no caminho ela se irritou com a calcinha que insistia em entrar nas partes pudendas. E se irritou com ela mesma por ter colocado essa calcinha. E também com o motorista que quase a atropelou em um cruzamento. A porta do tal instituto estava meio emperrada e ela ficou horas (um minuto e meio, mais ou menos) tentando abrir, já estava a ponto de chutar aquela merda.

Mas ela estava ali para relaxar, afinal. Segundo o médico, ela precisava disso. Respirou fundo e entrou. Se irritou com o cheiro de incenso, daqueles que entram na alma pelas narinas. Se irritou com o brinco de mandala de crochê da professora, e se irritou mais ainda pelo fato de a professora ser tão magrinha e sorridente. "Vamos começar, pessoal?"

Respirou fundo de novo. Vai ver que aquilo ia fazer bem mesmo pra ela. Ela só tinha que colaborar. Inspira...expira. Alongando, inspira... meu Deus, essa calcinha. E não tem como tirar ela dali. Inspira... expira. Isso, agora vamos começar com o ... o quê? Como chama? Nossa, como é isso? Meu pé não chega até lá, não. Pelo amor de Deus. E está todo mundo fazendo, menos eu. Coisa ridícula. E todo mundo calmo, concentrado, essa paz... Aaai, não consigo... grrrr eu sempre consigo o que eu quero, mas não chega... aaiii...

Nem respirar fundo ela pôde. Viu que estavam todos de olhos fechados e escapuliu rápida e silenciosamente. Agradeceu à recepcionista de longe, balbuciou algo sobre dor de barriga e foi embora. Depois ela veria o que fazer com a matrícula.

Na volta, resolveu parar na padaria para comprar cigarros. E reparou que na pequena academia ao lado estava escrito, em letras garrafais: BOXE. Boxe!! Dar porrada mesmo que fosse em um saco de areia, gritar quanto quisesse, socos e mais socos? Era disso que ela precisava!

Foi se matricular na mesma hora. Na primeira aula estourou um saco de pancada. O professor gritava na orelha dela, vai! isso! E ela urrava e dava porrada.

Saiu de lá levinha, levinha.

Virou outra pessoa. Ela continua trabalhando 14 horas por dia. Só resolveu comer mais salada e se desfazer de um dos celulares. E três vezes por semana, religiosamente, lá estava ela no boxe. O pessoal até achou que ela tinha arrumado um namorado novo, de tão tranquila e sorridente que ela andava. É que não tinham visto ela na aula, senão iam entender pra onde foi todo aquele GRRRRR.